acordei para dentro, num sonho.
na sala de jantar serviam o pequeno almoço. sei que era urgente a minha partida, nem sequer devia estar ali. comi um croissant com doce de morango e bebi um café quente, o ambiente da sala ficou-me sem tempo de o apreciar. saí para o acesso que me levaria à rua, onde encontrei uma ampla escadaria de madeira, o chão era de soalho, as paredes forradas a papel desenhado com finos traços em forma de ramificações de flores pintadas a rosa velho. mas antes passei pelos lavabos, onde me cruzei com duas mulheres uma com caracóis loiros e a outra de lisos cabelos pretos, a primeira saía do seu banho de toalha enrolada ao corpo, a segunda estava vestida com roupa justa, saia preta pelo joelho e blusa branca, nas mãos um cigarro com boquilha, da boca libertava o fumo vagaroso, como quem contempla algo. passei ainda por uma sala onde estavas a ler o jornal numa poltrona, outros também aí se encontravam absorvidos em conversas como se estivessem a elaborar algum projecto entusiasta como faziam em criança, parecia a sala de uma academia onde apenas entravam os que pareciam fazer parte da elite e eu, desviei-me sem deixar que me visses.
à saída dois rapazes que pareciam querer meter-se em sarilhos com algum trauseunte distraído. tiveram um encontro comigo, mas a minha pressa sorriu-lhes dizendo-lhes que ficaria para a próxima.
na rua tentei situar-me e fui caminhando paralelamente ao tejo, embora em sentido contrário ao pretendido. quando cheguei a uma das quelhas apercebi-me que o rio tinha transbordado e logo alguém se abeirou a perguntar para onde me dirigia como se me acompanhasse no meu regresso a casa.
"-Santa Apolónia!"disse eu.
no dia a seguir ao sonho ainda me sinto anestesiada como se o meu encontro com o século passado me tivesse resgatado e mantido naquela ambiência.