Quis beber sofregamente do poço a água fresca que me iria matar a sede, e que sede eu tinha.
Ajoelhei-me na beirinha, afastei os limos e das minhas mãos fiz uma concha para reter a água. Sorvi a água e enchi novamente a concha, até me satisfazer. Fui molhando a ponta do nariz, os lábios, as faces, o cabelo... Aquela água fresca parecia convidar-me a outros prazeres.
Sentei-me. Fui-me descalçando, depois puxei a saia florida para cima e coloquei um pé, molhando primeiro os dedos e logo de seguida o outro, devagarinho.
Sentia nas nádegas as areias que me iam criando crateras na carne. Coloquei as mãos no chão, fechei os olhos e voltei a cabeça para trás, enquanto absorvia o cheiro dos limos e ouvia as rãs a saltar no bordo do poço. Os pés, as pernas faziam movimentos na água.
Mantive-me nesta transcendência até me esquecer de mim.
E assim cheguei a ti.